quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O garoto - The Kid



O Garoto
The Kid
EUA/1921
Charles Chaplin
68 min

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 "Depois de Idílio Campestre, eu me sentia inteiramente vazio de ideias. Em busca de um alívio para esse desespero fui ao Orpheum à procura de distrações e, nesse estado de espírito, vi um dançarino excêntrico, que nada tinha de extraordinário, mas que ao terminar o número trouxe ao palco o seu filhinho, garoto de quatro anos, para o agradecimento ao público. O garoto, de súbito, deu alguns engraçados passos de dança e, lançando um olhar de inteligência a plateia, fez alguns acenos e desapareceu nos bastidores. A plateia delirou. Isso poderia ser uma banalidade em se tratando de qualquer outra criança, mas Jackie Coogan era realmente um menino encantador. Fizesse o que fizesse, o garotinho possuía uma aliciante personalidade." (Charles Chaplin, em "Minha vida").

Segundo Chaplin, interpretar com Coogan era fácil, tremendamente fácil. Ele já viera pronto, já dominava todas as regras básicas da pantomina (arte de interpretar com os gestos, imprescindível no cinema mudo). E foi assim que surgiu uma das duplas mais famosas do cinema, capaz de fazer rir e chorar.

Realizado em 1921, O Garoto conta a história de uma mãe solteira (Edna Purviance), desesperada por não ter como sustentar a si e a uma criança, resolve deixá-la dentro de um carro, num bairro nobre. Quem sabe assim o filho teria melhor sorte. Por azar, o carro é roubado, e o garoto abandonado num cortiço. Carlitos (Chaplin) encontra-o e tenta por todos os modos "reabandoná-lo" em qualquer lugar. Num momento vemos um vagabundo quase sórdido, abrindo um bueiro para jogar a criança lá. Mas dura só alguns segundos. Ele logo desiste e volta a ter o olhar sincero e puro do velho e bom Carlitos que conhecemos. Sem saída, o garoto é adotado.

Dura é a vida que os espera. Onde cabe mal um cabem mal dois. Jackie (Coogan), o garoto, cresce assim, em péssimas condições financeiras, mas cercado pelo amor de um pai que luta para sobreviver. Os meios, claro, justificam os fins. E os dois trabalham numa parceria de quebrar vidros e eles mesmos consertarem. As confusões seguem, até o momento em que a figura da mãe ressurge, agora rica, e tenta reaver a criança.

 Uma curiosidade é a seqüência de cenas mais linda do filme (e do cinema): a cena em que o garoto é levado pelas autoridades policiais para um orfanato. A cena reproduz, de certa maneira, o que aconteceu com o próprio Charlie, que também fora afastado da mãe e do irmão, sendo levado num caminhão. 

 O público estava acostumado com o vagabundo, suas estripulias e confusões, mas não com dividi-lo com um protagonista tão jovem e talentoso. A junção da comédia com o drama também ganhava proporções nunca antes testadas: Chaplin nos negou, a partir daquele momento, a escolha entre sorrir ou chorar. Você tem vontade de rir de sua miséria, mas sente-se também culpado por isso... rir de alguém que passa por tantas dificuldades? E tem vontade de chorar quando o vê defendendo seu garoto, com unhas e dentes, de ser levado pelos funcionários da justiça. O garoto chorando desesperado, o corte para um Charlie de olhos arregalados, preso por dois homens mais fortes por ele, a corrida pelos telhados, culminando com o desfecho do beijo entre os dois: uma das cenas mais bem realizadas em toda a história do cinema. Um filme que inicia, realmente, a obra chapliniana.
Charles Chaplin (Tramp)
Edna Purviance (Mother)
Jackie Coogan (The Kid)


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